sexta-feira, 25 de março de 2016

Ao meu príncipe...

E palavras houvessem, dir-te-ia que é enternecedor e até comovente assistir-vos, contemplar a vossa fantástica relação de pai e filho, observar o brilho recíproco presente em cada um dos vossos olhos resplandecentes e perceber que não poderia ter escolhido melhor papá para o meu filho, palavras houvessem, dir-te-ia o quão orgulhosa estou do que temos vindo a construir enquanto família, palavras houvessem, dir-te-ia que é mágico ver-te a contar histórias para o nosso príncipe adormecer, mesmo quando és tu que não dormes há mais de vinte e quatro horas, palavras houvessem, dir-te-ia que é inspirador ver a garra com que enfrentas a vida, pois sei que a tua principal motivação é proporcionares ao teu filho o suficiente em peso e medida para que se torne um adulto fantástico, íntegro, humano, lutador… mas não há palavras, todas me parecem parcas na hora de falar do pai maravilhoso que és… Juntos somos INV_ _ _ _ _ _ _S 

Bullying

"Era um dia de Inverno cerrado e à escuridão de um lento amanhecer juntou-se o corte geral de eletricidade. Há muito que andava a sofrer com a perseguição de um grupo de quatro rapazes bem mais velhos do que eu, que me abordavam, elogiavam, lançavam piropos asquerosos, apalpavam-me e fugiam. Naquela manhã de Janeiro, aproveitaram o facto de, no meio da escuridão, me ter perdido das minhas amigas no tumulto de um átrio repleto de crianças e jovens ao rubro e cercaram-me, enquanto procurava as minhas amigas na rua, em busca de um pouco mais de claridade. Quando os vi a aproximarem-se com aquelas expressões de leões ferozes que encontram novas presas, tremi de medo. Só tive tempo de fugir pela única escapatória possível que ia dar às salas mais desagregadas e, por isso, mais desertas da escola: a biblioteca, a secretaria e o Conselho Diretivo. A manhã demorava a clarear e pensando já estar segura, recuperei o fôlego encostada à parede da biblioteca, sem que desse conta, eles apanharam-me, cercaram, tocaram, apalparam e beijaram com uma insensibilidade e uma agressividade assustadora, sem qualquer indício de caráter, dignidade e até mesmo de arrependimento. Quanto mais me tentava esquivar, gritando desesperada, mais eles troçavam e aumentavam a intensidade do toque, tentando silenciar-me, enquanto soltavam os asquerosos elogios do costume e percorriam todas as partes do meu corpo com as suas mãos sôfregas, contundentes, repugnantes... Magoaram-me fisicamente, mas a dor que causaram à minha alma foi mais devastadora e atroz. Eu tinha doze anos, era uma menina demasiado ingénua e frágil para sofrer tão duro golpe sem que ficasse traumatizada. Corri para a casa de banho, lavei a minha cara e a minha boca aflitivamente, quis lavar todo o meu corpo, que me enojava, mas não era possível. A eletricidade voltara, mas eu permaneci trancada na casa de banho, com um pavor imenso do que lá fora me poderia novamente esperar. Sentada na sanita, debruçada no meu colo, esfregava a boca com o intuito de a limpar, com movimentos cuja intensidade ia agressivamente aumentando, como que autopunindo-me por ter sido beijada, como que tentando arrancar a pele para que não restasse a mínima possibilidade de ainda haver vestígios de saliva daqueles selvagens. Encontrei por fim as minhas amigas, procuravam-me preocupadíssimas por não me verem há tanto tempo e quando se aperceberam de que algo de grave me havia acontecido, ficaram extremamente assustadas dando-me muito apoio e consolo, fazendo com que me sentisse protegida, amada, mas fi-las de imediato prometer que não contariam a ninguém, pois aqueles monstros com corpos de homem, haviam-me ameaçado que se alguém tivesse conhecimento do sucedido, iriam fazer muito pior. Demorei a recompor-me, mas tinha de fazê-lo. A minha mãe chegaria dentro de pouco tempo para uma reunião com a diretora de turma e não podia suspeitar do que havia acontecido. Se soubesse, iria apresentar queixa no Conselho Diretivo e tentar chegar à conversa com os indivíduos e, mais tarde ou mais cedo, eu iria sofrer represálias. Para eles foi uma brincadeira inconsequente, para mim foi um trauma que gerou pesadelos, medo, angústia e remorsos porque a minha baixa autoestima e insegurança toldaram-me o discernimento e fizeram com que acreditasse que a culpa tinha sido minha. Eles nunca souberam o rombo que causaram no meu desenvolvimento, nem desconfiaram da aversão que me ficou aos rapazes e que condicionou irremediavelmente a minha vivência social." 
Excerto do livro "Juntos Somos Invencíveis." 



E em escassos minutos muda tudo, o modo como vemos o mundo, o modo como nos vemos no mundo, o olhar cristalino com que contemplavas o mundo minutos antes, vê-se agora embaciado por lágrimas que te obrigam a abrir os olhos, conceber uma nova realidade, percebendo gravemente que a tinta cor-de-rosa com que sempre quiseste pintar o mundo à tua volta, era parca para o tanto que havia ainda por pintar. E nada é igual, refugias-te em ti mesmo, constróis barreiras intransponíveis que em vês de te protegerem, fazem com que te isoles e te sintas mais e mais só e desagregado.
O Bullying mata-nos, mesmo que ninguém o note, mata-nos o brio, a coragem, o amor-próprio e como o corpo continua vivo, obrigamo-nos a ressuscitar e a começar do zero, com mais ou menos complexos, com mais ou menos inseguranças e medos, mas é assim, faz parte do processo, é natural existirem boas e más pessoas, temos que conseguir contornar as cicatrizes que as menos boas nos desenham na alma e seguir em frente, erguendo a cabeça tanto quanto conseguirmos, até ao limite em que vemos os sorrisos sarcásticos de quem aplaudiu a nossa humilhação e voltamos a olhar para o chão, para fugir aos sorrisos das pessoas menos boas e dos seus amigos, que nos chamaram de gordos, de palitos, de feios, de orelhudos, de narigudos, de betos, de cromos, de pretos, de tudo o que lhes vier à mente e que sirva para nos fazer sentir diferentes, menos bons, miseráveis…


domingo, 13 de março de 2016

Palavras inspiradoras

"Quando te sentes inspirado por um objectivo grandioso, por um projecto extraordinário, todos os teus pensamentos quebram as suas grilhetas: a tua mente transcende as limitações, a tua consciência expande-se em todas as suas direções, e tu deparas-te com um novo, magnífico e maravilhoso mundo. As forças, faculdades e talentos adormecidos despertam para a vida e descobres que tu próprio és uma pessoa muito melhor do que jamais pensaras ser possível."Patandjáli



sexta-feira, 11 de março de 2016

Excerto ...

Termino este livro com alegria traduzida em lágrimas que teimam em beijar o teclado do computador, sim, são lágrimas de alegria mas também de comoção por tudo o que representa este livro e por todo o sofrimento experienciado. Como dói aprender, como é gritante a dor da mudança e quão doloroso é ir contra as normas da sociedade, sobretudo, quando a falta de autoestima nos remete para uma insegurança avassaladora que nos faz sermos marionetas do contexto social. In Juntos Somos Invencíveis



sexta-feira, 4 de março de 2016

Rugas

Após um início de relação bastante doloroso com as minhas rugas, fizemos as pazes. O nosso primeiro encontro foi tempestuoso, também porque nos conhecemos numa altura dificílima, perfeitamente inoportuna, precisamente quando iniciava uma nova relação com o namorado, agora marido, sete anos mais novo. A acentuada perda de peso da altura, antecipou a minha relação com as minhas rugas, e na altura surgiu como uma nova alavanca para a minha velha auto estima, quando um qualquer espelho se atrevia a cruzar o meu caminho era o descalabro total. Demorei a aceitar cada novo traço desenhado na minha face e numa altura, em que de certo modo rejubilava com a minha recente relação amorosa, via-me a ofuscar o brilho que esta nova relação me trazia, por não conseguir encarar uma sociedade magistrada, que vê ainda a diferença de idades como algo digno de se tornar na próxima conversa de café. Quando nos cruzávamos com pessoas conhecidas, imaginava-lhes o que lhes ia no pensamento: “aquela deve ser a mãe dele, só pode!”, “que desperdício um rapaz tão bonito, para uma velha”. No decorrer do nosso percurso de vida, o tempo acaba sempre por ser o nosso melhor aliado, e depois de alguns anos, de uma relação forçada e cada vez mais intensa com as minhas rugas, relativizei, abandonei o preconceito que eu própria levava dentro de mim, então aceitei-as e na maior parte dos dias, consigo observá-las com um sorriso no rosto, dias há, esporadicamente, em que ainda tenho alguma dificuldade em reconhecer a mulher no espelho, outrora menina, uma menina que muito antes de ter qualquer ruga, desesperava com a imagem refletida no espelho, porque se focava sempre nos pontos negativos, que o seu aspeto físico poderia revelar. Os anos passam e o que a minha difícil, mas preciosa relação com as rugas me ensinou, é que a beleza está na forma como vemos as coisas, hoje consigo ver muito mais beleza na imagem refletida no espelho do que há 15 anos atrás, porque anteriormente via o que não era essencial, analisava cada detalhe do meu rosto e do meu corpo e recriminava-me constantemente por não ser tão perfeita quanto as modelos das revistas. Agora vejo para além da imagem que o espelho reflete, foco-me no meu olhar e vejo conquistas, vejo lágrimas, vejo sorrisos e até mesmo gargalhadas, vejo crescimento, quietude, perseverança e uma criança que não se cansa de ser isso mesmo, criança, porque em menina vivia em função da mulher que gostaria de ser e hoje vivo para a menina que sei que sou, com muito da menina que fui e com o melhor que recebi da mulher em que me tornei. Hoje preferia que as minhas amigas rugas nunca me abandonassem, pois levam com elas histórias de uma vida, confidenciei-lhes segredos, sonhos e saberes, mas não me importava que se mantivessem como estão, sem muito “show off”, discretas e serenas… Até morrermos a vida insiste em presentear –nos com as mais fantásticas  lições e algumas das lições que guardo com mais carinho são estas: Não é o que vês, é como vês…Não é o que tens, é como desfrutas o que tens…Não é o que os outros vêm de ti é como te vês a ti mesma, é o que sabes que és… e nada mais importa* Carpe Diem…