quarta-feira, 6 de julho de 2016

O medo da mudança

"O meu primeiro namoro era a única realidade que conhecia e embora com muitos pontos negativos, sempre me parecera suficiente, pois não sabia diagnosticar as respostas que o meu corpo gritava, transformando-as em consecutivos problemas de saúde. Sentia um vazio desmedido ao imaginar-me a seu lado para o resto da vida. A minha irritabilidade constante revelava uma enorme saturação, o copo que antes estava meio cheio, estava agora a transbordar. É insuportavelmente difícil, senti-o na pele e sei o quanto é doloroso, romper sólidas barreiras para solucionarmos, definitivamente, os nossos problemas, mas sei também, que este é o primeiro passo, para vivermos em concordância com o nosso EU e em paz connosco e com o mundo.

"Aprenda a Viver sem Medo”
“Mas como posso eu libertar-me de todas estas pretensões se não sei ser outra coisa? Sei que não me sinto feliz, mas como vou poder mudar tudo isto sem ficar com a impressão de que estou a perder?”, insiste você, quase receoso da minha resposta.
Toda a gente sabe que nada é mais assustador do que o desconhecido. E, nesta fase, escolhermos ser quem verdadeiramente somos é o desconhecido, porque durante todo o tempo em que fizemos de conta ser quem não somos, escondemos o que não sabemos e o que receamos, deixámos de ver os aspetos positivos deste processo, ignorámos as possibilidades que uma situação de crise proporciona, esquecemos as qualidades que possuímos e que nos ajudariam a superar tais dificuldades. Isto é, mantivemo-nos agarrados a uma existência condicionada pelo medo e pelo silêncio.
Por isso, e começando a responder à sua pergunta, antes de mais devemos afastar o medo dessa mudança, seja ela qual for. E toda a mudança deve ser levada a efeito por si e para si, sem o envolvimento de ninguém. É uma decisão inteiramente sua, que vem do seu interior. Deve, portanto, necessária e obrigatoriamente, começar em si!
E começa como?
Com a decisão imediata e irreversível de querer ser você mesmo!
E para isso precisa de parar!
Precisa de perceber que você e só você é responsável por essa mudança e que ela não depende nem de mais ninguém nem do meio que o rodeia diariamente. Ninguém pode viver a sua vida por si. É você que tem de mudar. E não caia na armadilha tão comum de dizer: “Se o meu marido/mulher não fosse tão egoísta, seria muito mais fácil para mim mudar.” Ou ainda: “Quem me dera que as coisas fossem diferentes. Aí eu conseguiria mudar.” Ou ainda: “Quero mudar, mas sempre que decido fazer alguma coisa nesse sentido, acontece-me algo que me faz voltar à estaca zero.”
Se pensar com calma, vai perceber que estas afirmações ou outras do género sugerem que, de uma maneira ou de outra, a responsabilidade da mudança é consciente ou inconscientemente transferida para alguém. Cómodo, não é? A sua dificuldade em mudar encontrou um bode expiatório. Óptimo! “Eu até quero mudar, mas...” pensará. E sente-se desculpado.
Este tipo de afirmações e pensamentos só fazem com que adie permanentemente qualquer mudança, nunca mais se encontre a si próprio e nunca mais empreenda o caminho para gostar de si. Quase sempre a condição prévia para não mudar está no acreditar, erradamente, que outra pessoa deve mudar antes de nós. Pois acredite que ninguém vai mudar as suas atitudes, hábitos ou comportamentos para que você seja uma pessoa apta a empreender uma mudança, seja ela qual for. E mesmo que apareça alguém, ainda que outros mudem, isso só o satisfará por um curto período de tempo. E sabe porquê? Porque o facto dos outros mudarem para que você possa mudar, não é condição suficiente para isso acontecer. O que acontece é que durante algum tempo viverá na ilusão de que a mudança pode agora acontecer, mas, na verdade, ela nunca virá a acontecer, porque você continuará sem mudar. Esse alguém mudou, você não. Porque a partir do momento que esse alguém mudou, o seu nível de mudança também passou a ser outro. Isto é, a mudança que você antes ambicionava em si deixa de ser agora a que mais lhe convém, a mudança que você antes acreditava ser a mais acertada para si passa agora muito provavelmente a não ser a mais apropriada, unicamente porque os outros mudaram em vez de você.
Se você acredita que a solução para a sua mudança está nas mãos de alguém, está a garantir-se uma vida de frustração. Ou pior. Está a colocar-se no papel de vítima, porque é mesmo o que será, pondo-se completamente dependente de outros e das suas ações para empreender qualquer mudança em si.”
Excerto do Livro "Aprenda a Viver sem Medo" de José Micard Teixeira"

In Juntos Somos Invencíveis


sexta-feira, 6 de maio de 2016

Planos...

"Um plano é só um plano, mas quando o assumimos como meta obrigatória, acarreta uma pressão que se transfigura em ansiedade e cegueira. Desejamos tão arduamente cumprir determinada meta, que quando finalmente a conseguímos alcançar, percebemos que o tempo tudo corrói, que nós mudámos e que os outros também mudaram. Aí, verificamos que a vontade em alcançá-la levou-nos a agir negligentemente, turvou-nos a intuição, espalhando um rasto de frustrações e decisões imponderadas." In Juntos Somos Invencíveis


sábado, 30 de abril de 2016

terça-feira, 19 de abril de 2016

sábado, 16 de abril de 2016

Obrigada! Volte sempre! (ou não)


O atendimento ao público não é “pêra doce” e só quem o prova tem o desprazer de o saborear. Quando cumprimentamos um cliente/visitante, dizemos olá ao sorriso, às suas lágrimas, às suas preocupações, frustrações e um sem número de emoções, que muitas vezes acabam por afetar inequivocamente o nosso próprio estado de espírito, ainda que nem sempre o consigamos relacionar.
Há no atendimento ao público uma relação agridoce, quando o deixamos de fazer pelos mais variados motivos, por vezes sentimos o vazio que os clientes amigos nos deixam na alma, por outro lado, se estamos há anos a fazê-lo é inevitável sentirmos um desgaste imenso provocado pelo cansaço que é interagirmos continuamente com as especificidades comportamentais de cada cliente/visitante. Dia após dia, pé ante pé, passamos a viver os seus problemas pois não somos de modo algum apenas o empregado de balcão, somos sobretudo a almofada de consolo e até nós peregrinam as mais trágicas histórias de vida e somos igualmente o saco de boxe onde outros tantos vêm descomprimir o stresse do dia-a-dia. Gradualmente o nosso currículo vai-se expandindo e passamos a poder desempenhar, com mérito, outras funções: engolidores de sapos, atores e atrizes, conselheiros matrimoniais, psicólogos, gestores de conflitos e um sem fim de dotes que a experiência com o público nos vai cedendo.
E vezes há em que temos que sorrir com vontade de chorar, obrigando-nos a esquecer os nossos próprios problemas para lembrar à pessoa que desabafa, debruçada no balcão, que a vida não é assim tão difícil, que problemas todos temos e que não é a pensar no problema que ele automaticamente se resolve, a energia que nos resta no auge de uma situação mais complicada deve ser despendida com a procura de soluções, com a certeza que vamos dar a volta por cima, demore o tempo que demorar, nunca nenhum drama é eterno, há a queda, há o digerir da queda, há o sentir as dores da queda e há o erguer, tem que haver o erguer, para uns mais rápido de que para outros, mas ninguém pode viver eternamente infeliz, é contra natura! Vejo rostos densos que entram no estabelecimento, sem uma palavra proferir, os seus olhares são opacos, a sua boca não responde ao mais básico cumprimento de coexistência social, não me encaram talvez com medo que lhes perceba a densidade de suas almas, mas não é a mim, nem a ninguém que têm que prestar contas, é a si mesmos, eu tenho uma vida própria para cuidar, dos outros só me importa se são felizes e se com isso deixam o mundo um pouco melhor…
 Doem-me as suas perspetivas de superioridade face à pequenez da pessoa que atende o público, doem-me os seus olhares trocistas e os seus sorrisinhos sarcásticos, não me conhecem, quem sabe se apesar de não ter um doutoramento não serei até bem mais inteligente que eles mesmos? Pelo menos aprendi mais da escola da vida e isso deu-me inteligência suficiente para ser cordial com o próximo e para não me sentir superior a ninguém.      

Alegram-me os clientes de alma leve, a empatia criada por vezes com alguém que acabei de conhecer, mas que sinto que poderia levar para a vida, alegra-me apoia-los com as minhas palavras e saber que se despedem de mim com a alma mais leve e um sorriso no rosto, alegram-me os bons dias expansivos e sorrisos translúcidos, a estes clientes dou-lhe o mundo se puder, aos outros digo-lhes: Obrigada! Volte sempre! (ou não).




segunda-feira, 11 de abril de 2016

Auto-estima VS Julgamento da sociedade



"A minha autoestima estava totalmente dependente dos olhos dos outros, da forma como me viam e aceitavam e mesmo que todos se manifestassem agradados comigo, nunca era o suficiente, pois aos meus olhos, eu era imperfeita e não me amando, era impossível sentir-me amada fosse por quem fosse.
Sempre fui insegura, talvez até um pouco cobarde, pois na altura de dizer o que penso ou afirmar-me perante situações de discórdia, prefiro calar e deixar os outros conduzirem a situação. Detesto discussões, evito-as ao máximo e, por isso, perdoo e esqueço com grande facilidade, só quero estar bem com o mundo e faço tudo para o respeitar. A minha mãe dá muito valor ao que os outros pensam e numa pequena aldeia, pensar no que os outros pensam de nós, acarreta uma pressão colossal. Todos se conhecem e por mais que nos esforcemos por agradar, haverá sempre alguém a apontar uma ínfima nódoa no nosso mais deslumbrante vestido, ninguém parece reparar no quão magnífico ele é, pois estão todos demasiadamente concentrados naquela minúscula nódoa. Aprendi que podemos dar 99% de motivos para que falem bem de nós, mas que a sociedade é cruel ao ponto de se focar apenas naquele ponto percentual em que ousámos errar. Foi-me incutido, de forma inconsciente, que é um dever parecer bem aos outros, porque a sociedade julga o desconhecido com muito mais facilidade do que se julga a ela própria, porque apontar o dedo é fácil e alivia as nossas próprias imperfeições. Até há bem pouco tempo atrás, regi-me pelo dever de agradar ao mundo. Agora, acredito que viver com a obsessão de agradar ao próximo é perfeitamente errado e opressivo, pois o resultado que se obtém desse esforço pelo agrado coletivo é sempre dececionante. Se vives para agradar ao próximo, é porque não tens autoestima e amor-próprio que te dê alicerces para enfrentar destemidamente o julgamento alheio, é porque a tua insegurança te deixa à mercê dos exigentíssimos pareceres sociais. Um dia, irás desiludi-los porque não irás conseguir superar sempre as suas elevadas expetativas e vais sentir-te frustrado, pois nunca te agradaste a ti mesmo. O único ser a quem deves agradar é a ti próprio,se fores fiel a ti mesmo, tudo será simples, pois não os irás surpreender de forma súbita com o teu novo Eu, tal como eu fiz (...) Nos meus monólogos interiores em jeito de autocrítica, costumava pensar que na vida não tinha problemas, eu era o problema. Inimiga de mim mesma, não gostava nem valorizava minimamente o meu ser, vivia numa luta interior desde a adolescência e cometi alguns disparates, que funcionavam como que autopunição por não cumprir os requisitos de perfeição que me impunha. Entrava em dietas rigorosíssimas, porque ao contrário do que o mundo me dizia, eu era feia e gorda. Sempre adorei doces e guloseimas mas obrigava-me a um controlo e cuidado incessante com a aparência, pois a meu ver o facto de ser feia, deveria ser minimizado e ultrapassado com maquilhagem diária e roupas bonitas em plena concordância com a moda. Ao almoço comia uma sopa e o buraco que sentia no estômago no decorrer de uma tarde de trabalho era como um castigo que devia sentir por não ter o corpo que sempre sonhara. Não me orgulho destes meus disparates, muito pelo contrário, mas tenho de aceitá-los. Felizmente, fazem parte do meu passado, mas neste momento podem fazer parte do presente de muitas pessoas, como tal, sinto-me no dever de os partilhar, para poder inspirar outros e fazer-lhes perceber que haverá sempre uma luz ao fundo do túnel. As fases mais negras da nossa vida podem funcionar como estágios onde permanecemos para poderemos vislumbrar outras luzes que se aproximam ou que já moravam no nosso interior e não tínhamos força para as fazer sobressair. Hoje, quando penso em tudo isto, sinto que fui tão fútil, tão materialista, tão vazia. Não percebia que isto que temos é só um corpo, que o que vai restar de nós quando morrermos não é o corpo e os seus adornos que o embelezam, mas sim a alma e é essa que temos que ir embelezando ao longo da vida, pois será a única coisa que nos será permitido levar quando partirmos. É válido que nos sintamos bem por dentro e por fora, o ideal é mesmo conseguirmos um equilíbrio que faça jus à frase “mente sã em corpo são”, mas o corpo não se deve sobrepor à alma e o que fazemos para melhorá-lo não nos poderá melindrar e prejudicar, tem de ser algo natural que nos traga tranquilidade(…)”

Excerto do Livro Juntos Somos Invencíveis 


domingo, 3 de abril de 2016

Porquê agora?


“Oh mulher, mas porquê agora? Não te conhecia dada a estas coisas da escrita…“ Ouvi quando comuniquei, em pleno êxtase, que iria em breve lançar um livro. Engoli em seco, não era essa a reação que esperava, abanou-me, mas não caí como o teria feito anteriormente. Tentei perceber que só me desiludi porque ousei criar expectativas, compreendi que tal reação havia sido natural, afinal todos julgam que nos conhecem, mas tão poucos sabem quem na realidade somos. Sim eu sou a menina, agora mulher, cujo pavor do veredicto da sociedade fez calar. E se no passado a minha insegurança desmedida me fez recolher na minha concha de cobardia, no presente as minhas vontades gritam mais alto que a minha insegurança. Aos trinta e quatro anos relativizamos muito mais as coisas e vibramos muito mais com o que de facto nos preenche e aquece a alma…e sim continuo insegura, mas muito mais corajosa! Percebi que nunca irei agradar a sociedade e portanto obriguei-me a agradar-me a mim mesma e sabe tão bem! Com esta idade, resolvi abrir a gaveta, pegar no livro que se destinava a ser incógnito para sempre e unir esforços para edita-lo! Mas porquê? Porque finalmente três décadas depois de andar por estas bandas, percebi que a felicidade está intimamente ligada a cada passo no sentido das nossas realizações pessoais e…fiz uma pausa na correria da vida, para registar por escrito as minhas realizações pessoais, numa pequena lista que guardo agora como marcador no livro que neste momento me embala antes de adormecer. Assim obrigo-me a revê-la todas as noites e não deixo que me caia no esquecimento, já bastou o tempo que me esqueci de mim mesma… Com este meu novo e saboroso egoísmo, penso cada vez mais em riscar o próximo tópico da lista e cada vez menos no burburinho que este meu novo EU vai despoletar. Porque só eu sei a felicidade que sinto ao escrever, a cantar, a fotografar… a ser eu mesma. Porquê agora? Porque a marioneta amou-se um pouquinho mais e isso fez com que ganhasse forças para cortar as cordas que a manipulavam. Porquê agora? Porque percebi tardiamente que por mais que nos esforcemos, os aplausos vão ser sempre escassos e nem sempre sinceros e então não há porque nos subjugarmos. Porquê agora? Porque me abri à possibilidade de ser feliz a maior parte do tempo e com isto deixar um pouco mais felizes os que me rodeiam. Porquê agora? Porque só com a idade percebemos que o tempo voa, e que se não soubermos aproveitar cada segundo, corremos o risco de já não ter tempo para tudo o que nos falta realizar. Porquê agora? Porque o amanhã pode não chegar e quando partires poderás ficar desiludido com a leveza que a tua alma carrega na bagagem.

Porquê agora? E porque não?  



sexta-feira, 1 de abril de 2016

Só nós sabemos...

"...foi nesse preciso período da minha vida que percebi que o nosso caminho na vida é solitário e escrevo-o não com mágoa ou ressentimento, escrevo-o com a alegria de o ter percebido. Temos de viver de dentro para fora, não obstante estarmos rodeados de amigos e familiares, mas tudo parte de nós, temos de nos dar de coração, percebendo à partida, que nós e só nós, podemos comandar o nosso destino. Temos de nos conhecer verdadeiramente para sabermos o que nos eleva o espírito, sendo esse o principal propósito da nossa vida. Podemos ter um milhão de amigos, o amor da nossa vida a nosso lado, mas será sempre a nós mesmos que deveremos prestar contas. O mundo poderá amar-nos mas se nós não nos amarmos primeiro, nunca iremos saber receber e dar amor. O mundo não nos conhece intrinsecamente e, por isso, por mais desenhos que possamos fazer tentando passar uma mensagem, só nós a iremos interpretar corretamente e, com o tempo, aprendemos que não temos de ser transparentes com o mundo, mas sim connosco e compreendemos, duramente, que muitas vezes os períodos em que mais evoluímos, foram os que atravessamos sozinhos, no rescaldo da nossa dor." 
Excerto do livro "Juntos Somos Invencíveis." 



sexta-feira, 25 de março de 2016

Ao meu príncipe...

E palavras houvessem, dir-te-ia que é enternecedor e até comovente assistir-vos, contemplar a vossa fantástica relação de pai e filho, observar o brilho recíproco presente em cada um dos vossos olhos resplandecentes e perceber que não poderia ter escolhido melhor papá para o meu filho, palavras houvessem, dir-te-ia o quão orgulhosa estou do que temos vindo a construir enquanto família, palavras houvessem, dir-te-ia que é mágico ver-te a contar histórias para o nosso príncipe adormecer, mesmo quando és tu que não dormes há mais de vinte e quatro horas, palavras houvessem, dir-te-ia que é inspirador ver a garra com que enfrentas a vida, pois sei que a tua principal motivação é proporcionares ao teu filho o suficiente em peso e medida para que se torne um adulto fantástico, íntegro, humano, lutador… mas não há palavras, todas me parecem parcas na hora de falar do pai maravilhoso que és… Juntos somos INV_ _ _ _ _ _ _S 

Bullying

"Era um dia de Inverno cerrado e à escuridão de um lento amanhecer juntou-se o corte geral de eletricidade. Há muito que andava a sofrer com a perseguição de um grupo de quatro rapazes bem mais velhos do que eu, que me abordavam, elogiavam, lançavam piropos asquerosos, apalpavam-me e fugiam. Naquela manhã de Janeiro, aproveitaram o facto de, no meio da escuridão, me ter perdido das minhas amigas no tumulto de um átrio repleto de crianças e jovens ao rubro e cercaram-me, enquanto procurava as minhas amigas na rua, em busca de um pouco mais de claridade. Quando os vi a aproximarem-se com aquelas expressões de leões ferozes que encontram novas presas, tremi de medo. Só tive tempo de fugir pela única escapatória possível que ia dar às salas mais desagregadas e, por isso, mais desertas da escola: a biblioteca, a secretaria e o Conselho Diretivo. A manhã demorava a clarear e pensando já estar segura, recuperei o fôlego encostada à parede da biblioteca, sem que desse conta, eles apanharam-me, cercaram, tocaram, apalparam e beijaram com uma insensibilidade e uma agressividade assustadora, sem qualquer indício de caráter, dignidade e até mesmo de arrependimento. Quanto mais me tentava esquivar, gritando desesperada, mais eles troçavam e aumentavam a intensidade do toque, tentando silenciar-me, enquanto soltavam os asquerosos elogios do costume e percorriam todas as partes do meu corpo com as suas mãos sôfregas, contundentes, repugnantes... Magoaram-me fisicamente, mas a dor que causaram à minha alma foi mais devastadora e atroz. Eu tinha doze anos, era uma menina demasiado ingénua e frágil para sofrer tão duro golpe sem que ficasse traumatizada. Corri para a casa de banho, lavei a minha cara e a minha boca aflitivamente, quis lavar todo o meu corpo, que me enojava, mas não era possível. A eletricidade voltara, mas eu permaneci trancada na casa de banho, com um pavor imenso do que lá fora me poderia novamente esperar. Sentada na sanita, debruçada no meu colo, esfregava a boca com o intuito de a limpar, com movimentos cuja intensidade ia agressivamente aumentando, como que autopunindo-me por ter sido beijada, como que tentando arrancar a pele para que não restasse a mínima possibilidade de ainda haver vestígios de saliva daqueles selvagens. Encontrei por fim as minhas amigas, procuravam-me preocupadíssimas por não me verem há tanto tempo e quando se aperceberam de que algo de grave me havia acontecido, ficaram extremamente assustadas dando-me muito apoio e consolo, fazendo com que me sentisse protegida, amada, mas fi-las de imediato prometer que não contariam a ninguém, pois aqueles monstros com corpos de homem, haviam-me ameaçado que se alguém tivesse conhecimento do sucedido, iriam fazer muito pior. Demorei a recompor-me, mas tinha de fazê-lo. A minha mãe chegaria dentro de pouco tempo para uma reunião com a diretora de turma e não podia suspeitar do que havia acontecido. Se soubesse, iria apresentar queixa no Conselho Diretivo e tentar chegar à conversa com os indivíduos e, mais tarde ou mais cedo, eu iria sofrer represálias. Para eles foi uma brincadeira inconsequente, para mim foi um trauma que gerou pesadelos, medo, angústia e remorsos porque a minha baixa autoestima e insegurança toldaram-me o discernimento e fizeram com que acreditasse que a culpa tinha sido minha. Eles nunca souberam o rombo que causaram no meu desenvolvimento, nem desconfiaram da aversão que me ficou aos rapazes e que condicionou irremediavelmente a minha vivência social." 
Excerto do livro "Juntos Somos Invencíveis." 



E em escassos minutos muda tudo, o modo como vemos o mundo, o modo como nos vemos no mundo, o olhar cristalino com que contemplavas o mundo minutos antes, vê-se agora embaciado por lágrimas que te obrigam a abrir os olhos, conceber uma nova realidade, percebendo gravemente que a tinta cor-de-rosa com que sempre quiseste pintar o mundo à tua volta, era parca para o tanto que havia ainda por pintar. E nada é igual, refugias-te em ti mesmo, constróis barreiras intransponíveis que em vês de te protegerem, fazem com que te isoles e te sintas mais e mais só e desagregado.
O Bullying mata-nos, mesmo que ninguém o note, mata-nos o brio, a coragem, o amor-próprio e como o corpo continua vivo, obrigamo-nos a ressuscitar e a começar do zero, com mais ou menos complexos, com mais ou menos inseguranças e medos, mas é assim, faz parte do processo, é natural existirem boas e más pessoas, temos que conseguir contornar as cicatrizes que as menos boas nos desenham na alma e seguir em frente, erguendo a cabeça tanto quanto conseguirmos, até ao limite em que vemos os sorrisos sarcásticos de quem aplaudiu a nossa humilhação e voltamos a olhar para o chão, para fugir aos sorrisos das pessoas menos boas e dos seus amigos, que nos chamaram de gordos, de palitos, de feios, de orelhudos, de narigudos, de betos, de cromos, de pretos, de tudo o que lhes vier à mente e que sirva para nos fazer sentir diferentes, menos bons, miseráveis…


domingo, 13 de março de 2016

Palavras inspiradoras

"Quando te sentes inspirado por um objectivo grandioso, por um projecto extraordinário, todos os teus pensamentos quebram as suas grilhetas: a tua mente transcende as limitações, a tua consciência expande-se em todas as suas direções, e tu deparas-te com um novo, magnífico e maravilhoso mundo. As forças, faculdades e talentos adormecidos despertam para a vida e descobres que tu próprio és uma pessoa muito melhor do que jamais pensaras ser possível."Patandjáli



sexta-feira, 11 de março de 2016

Excerto ...

Termino este livro com alegria traduzida em lágrimas que teimam em beijar o teclado do computador, sim, são lágrimas de alegria mas também de comoção por tudo o que representa este livro e por todo o sofrimento experienciado. Como dói aprender, como é gritante a dor da mudança e quão doloroso é ir contra as normas da sociedade, sobretudo, quando a falta de autoestima nos remete para uma insegurança avassaladora que nos faz sermos marionetas do contexto social. In Juntos Somos Invencíveis



sexta-feira, 4 de março de 2016

Rugas

Após um início de relação bastante doloroso com as minhas rugas, fizemos as pazes. O nosso primeiro encontro foi tempestuoso, também porque nos conhecemos numa altura dificílima, perfeitamente inoportuna, precisamente quando iniciava uma nova relação com o namorado, agora marido, sete anos mais novo. A acentuada perda de peso da altura, antecipou a minha relação com as minhas rugas, e na altura surgiu como uma nova alavanca para a minha velha auto estima, quando um qualquer espelho se atrevia a cruzar o meu caminho era o descalabro total. Demorei a aceitar cada novo traço desenhado na minha face e numa altura, em que de certo modo rejubilava com a minha recente relação amorosa, via-me a ofuscar o brilho que esta nova relação me trazia, por não conseguir encarar uma sociedade magistrada, que vê ainda a diferença de idades como algo digno de se tornar na próxima conversa de café. Quando nos cruzávamos com pessoas conhecidas, imaginava-lhes o que lhes ia no pensamento: “aquela deve ser a mãe dele, só pode!”, “que desperdício um rapaz tão bonito, para uma velha”. No decorrer do nosso percurso de vida, o tempo acaba sempre por ser o nosso melhor aliado, e depois de alguns anos, de uma relação forçada e cada vez mais intensa com as minhas rugas, relativizei, abandonei o preconceito que eu própria levava dentro de mim, então aceitei-as e na maior parte dos dias, consigo observá-las com um sorriso no rosto, dias há, esporadicamente, em que ainda tenho alguma dificuldade em reconhecer a mulher no espelho, outrora menina, uma menina que muito antes de ter qualquer ruga, desesperava com a imagem refletida no espelho, porque se focava sempre nos pontos negativos, que o seu aspeto físico poderia revelar. Os anos passam e o que a minha difícil, mas preciosa relação com as rugas me ensinou, é que a beleza está na forma como vemos as coisas, hoje consigo ver muito mais beleza na imagem refletida no espelho do que há 15 anos atrás, porque anteriormente via o que não era essencial, analisava cada detalhe do meu rosto e do meu corpo e recriminava-me constantemente por não ser tão perfeita quanto as modelos das revistas. Agora vejo para além da imagem que o espelho reflete, foco-me no meu olhar e vejo conquistas, vejo lágrimas, vejo sorrisos e até mesmo gargalhadas, vejo crescimento, quietude, perseverança e uma criança que não se cansa de ser isso mesmo, criança, porque em menina vivia em função da mulher que gostaria de ser e hoje vivo para a menina que sei que sou, com muito da menina que fui e com o melhor que recebi da mulher em que me tornei. Hoje preferia que as minhas amigas rugas nunca me abandonassem, pois levam com elas histórias de uma vida, confidenciei-lhes segredos, sonhos e saberes, mas não me importava que se mantivessem como estão, sem muito “show off”, discretas e serenas… Até morrermos a vida insiste em presentear –nos com as mais fantásticas  lições e algumas das lições que guardo com mais carinho são estas: Não é o que vês, é como vês…Não é o que tens, é como desfrutas o que tens…Não é o que os outros vêm de ti é como te vês a ti mesma, é o que sabes que és… e nada mais importa* Carpe Diem…


segunda-feira, 29 de fevereiro de 2016

O amanhã, é agora...

Ela que sorri com a mesma intensidade com que chora
Ela cujos sonhos abafou para calar uma vida sôfrega
Ela que se impõe ao cansaço, almejando sonhos a conta-gotas
Ela que se rendeu à paz e por isso calou a guerra,
Ela que canta em silêncio, provando um dos seus sonhos abafados,
Ela que se entrega às palavras e se delicia com outro pedaço de sonho,
Ela que todos vêm, mas tão poucos a sabem,
Ela que chora lágrimas que não são delas e sorri aos sonhos dos demais,
Ela que segura o pedaço rosa do mundo e nega-se à perceção das cores mais densas,
Ela que é mulher, que é mãe, que é profissional, que é amiga, que quer ser tudo,
E se revolta com o relógio, por limitá-la ao ponto de se sentir escassa,
Ela, ele, e o seu pequeno mundo de um metro e pouco,
Eles bastam-lhe, eles conferem-lhe um sorriso de infinito, eles são amor
Ela é feliz em todos os momentos felizes, e são muitos… nos outros chora, aceita e segue em
frente com o olhar preso no horizonte e coragem na bagagem, ensinou-lhe a vida, que é a única responsável pela sua felicidade e então, cai, assume os erros, morde os lábios, suporta a dor e avança, a paciência já não lhe permite lamentos, o tempo é escasso para ser desperdiçado, o amanhã é agora.
Ela de olhar cintilante, observa o espelho no meu quarto e sorri, pois está onde deveria estar,
no caminho que embora se adivinha longo, é o seu, traçado de luta com sabor a lágrimas e
vitórias com sabor a sorrisos… o amanhã é agora.

terça-feira, 16 de fevereiro de 2016

"O crescimento interior está proporcionalmente ligado ao nosso bem-estar perante a vida, quanto mais evoluímos, melhor nos sentimos e, essa evolução, deve contribuir em larga escala para tornar o mundo melhor, refletindo-se diretamente na forma como nos damos a nós e aos outros. Passamos a ser personagens ativas na nossa própria história e não apenas figurantes, sujeitos ao alinhamento do realizador. Há um destino que lança a corda para que aprendamos o que precisamos aprender, mas é o nosso livre arbítrio que nos faz subi-la de uma ou de outra forma e dói, dói muito.Choras lágrimas de desespero, para um dia sorrires de esperança, pois terás consciência de que nas tuas mãos as rédeas da tua vida aguardam ansiosamente que as agarres e as dirijas rumo à felicidade. A felicidade não é aquele estádio supremo e constante de pura plenitude e contentamento que todos buscam incessantemente, perdendo, por isso, os melhores momentos. A felicidade é a capacidade que temos para viver o agora e desligarmo-nos do passado, esquecendo medos, raivas, culpas e todas as emoções negativas que nos bloqueiam e limitam. A felicidade são momentos, efémeros mas válidos, pois se fizermos um somatório de muitos momentos felizes e plenamente saboreados, temos meio caminho percorrido para um balanço positivo de toda a nossa vida. " In Juntos Somos Invencíveis




Laércio Fonseca - Ensinamentos...


Deixo aqui alguns links de um professor que muito admiro, pois vejo-lhe verdade nas palavras e pureza no olhar, desde que uma pesquisa ao "acaso" nos "juntou" tenho aprendido muito com as suas palestras e mesmo que muitos dos tópicos abordados sejam ainda demasiado complexos para o meu nível de entendimento, a verdade é que por mais complexos que possam ser, algo em mim me diz que faz todo o sentido...





sexta-feira, 5 de fevereiro de 2016

"A alma é o condutor; o corpo é o carro. * A alma é o ator; o corpo é a sua fantasia. * A alma é um diamante; o corpo é a caixa de jóias. * A alma é o músico; o corpo é o instrumento. * A alma é o convidado; o corpo é o hotel. * A alma é a divindade; o corpo é o templo"... Namaste



terça-feira, 2 de fevereiro de 2016

Não há coincidências *


"(...)Hoje, sei que me faltava o som do silêncio, horas de meditação e recolhimento que se convertessem em horas de autoconhecimento e desenvolvimento do meu amor-próprio. Tenho hoje plena consciência, embora continue a ser difícil aplicar na prática, que amarmo-nos a nós próprios é a base que regerá a nossa vida e que são os alicerces inabaláveis que irão sustentar o nosso castelo. Percebo agora o porquê da existência de tantos livros de autoajuda, que fomentam o amor-próprio e nos incitam a amarmo-nos primeiro a nós, para podermos dar o melhor de nós ao mundo. Mas é um processo lento, moroso, difícil, a essência de um ser não se transfigura sem trabalho e em pouco tempo, é um processo construtivo, que leva tempo e exige um grande esforço, que é essencial, para nos alinharmos e conseguirmos gerir a nossa vida conscientemente (...)"





terça-feira, 26 de janeiro de 2016

"Julguei que o meu mundo me tinha virado as costas para sempre, mas abri-lhe os meus braços e ele voltou-se para mim"

segunda-feira, 25 de janeiro de 2016

“Quando me permiti deixar de agradar aos outros continuamente, como uma regra inquebrável, autoimposta desde sempre, passei a agradar-me a mim mesma. Travei duras batalhas internas e duras batalhas com o meu mundo externo, que por me ver tão senhora de mim me julgou demente, ironicamente, quando nunca me sentira tão lúcida. Quis desistir de tudo, vi-me a flutuar numa tábua bem no centro de um extenso oceano, completamente perdida e emersa em trevas de desespero, mas como diz um provérbio chinês: Jamais desespere no meio das mais sombrias aflições da vida, pois das nuvens mais negras cai água límpida e fecunda."