sexta-feira, 4 de março de 2016

Rugas

Após um início de relação bastante doloroso com as minhas rugas, fizemos as pazes. O nosso primeiro encontro foi tempestuoso, também porque nos conhecemos numa altura dificílima, perfeitamente inoportuna, precisamente quando iniciava uma nova relação com o namorado, agora marido, sete anos mais novo. A acentuada perda de peso da altura, antecipou a minha relação com as minhas rugas, e na altura surgiu como uma nova alavanca para a minha velha auto estima, quando um qualquer espelho se atrevia a cruzar o meu caminho era o descalabro total. Demorei a aceitar cada novo traço desenhado na minha face e numa altura, em que de certo modo rejubilava com a minha recente relação amorosa, via-me a ofuscar o brilho que esta nova relação me trazia, por não conseguir encarar uma sociedade magistrada, que vê ainda a diferença de idades como algo digno de se tornar na próxima conversa de café. Quando nos cruzávamos com pessoas conhecidas, imaginava-lhes o que lhes ia no pensamento: “aquela deve ser a mãe dele, só pode!”, “que desperdício um rapaz tão bonito, para uma velha”. No decorrer do nosso percurso de vida, o tempo acaba sempre por ser o nosso melhor aliado, e depois de alguns anos, de uma relação forçada e cada vez mais intensa com as minhas rugas, relativizei, abandonei o preconceito que eu própria levava dentro de mim, então aceitei-as e na maior parte dos dias, consigo observá-las com um sorriso no rosto, dias há, esporadicamente, em que ainda tenho alguma dificuldade em reconhecer a mulher no espelho, outrora menina, uma menina que muito antes de ter qualquer ruga, desesperava com a imagem refletida no espelho, porque se focava sempre nos pontos negativos, que o seu aspeto físico poderia revelar. Os anos passam e o que a minha difícil, mas preciosa relação com as rugas me ensinou, é que a beleza está na forma como vemos as coisas, hoje consigo ver muito mais beleza na imagem refletida no espelho do que há 15 anos atrás, porque anteriormente via o que não era essencial, analisava cada detalhe do meu rosto e do meu corpo e recriminava-me constantemente por não ser tão perfeita quanto as modelos das revistas. Agora vejo para além da imagem que o espelho reflete, foco-me no meu olhar e vejo conquistas, vejo lágrimas, vejo sorrisos e até mesmo gargalhadas, vejo crescimento, quietude, perseverança e uma criança que não se cansa de ser isso mesmo, criança, porque em menina vivia em função da mulher que gostaria de ser e hoje vivo para a menina que sei que sou, com muito da menina que fui e com o melhor que recebi da mulher em que me tornei. Hoje preferia que as minhas amigas rugas nunca me abandonassem, pois levam com elas histórias de uma vida, confidenciei-lhes segredos, sonhos e saberes, mas não me importava que se mantivessem como estão, sem muito “show off”, discretas e serenas… Até morrermos a vida insiste em presentear –nos com as mais fantásticas  lições e algumas das lições que guardo com mais carinho são estas: Não é o que vês, é como vês…Não é o que tens, é como desfrutas o que tens…Não é o que os outros vêm de ti é como te vês a ti mesma, é o que sabes que és… e nada mais importa* Carpe Diem…


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