Após um início de relação bastante doloroso com as minhas
rugas, fizemos as pazes. O nosso primeiro encontro foi tempestuoso, também
porque nos conhecemos numa altura dificílima, perfeitamente inoportuna, precisamente
quando iniciava uma nova relação com o namorado, agora marido, sete anos mais
novo. A acentuada perda de peso da altura, antecipou a minha relação com as
minhas rugas, e na altura surgiu como uma nova alavanca para a minha velha auto
estima, quando um qualquer espelho se atrevia a cruzar o meu caminho era o
descalabro total. Demorei a aceitar cada novo traço desenhado na minha face e
numa altura, em que de certo modo rejubilava com a minha recente relação amorosa,
via-me a ofuscar o brilho que esta nova relação me trazia, por não conseguir
encarar uma sociedade magistrada, que vê ainda a diferença de idades como algo digno
de se tornar na próxima conversa de café. Quando nos cruzávamos com pessoas
conhecidas, imaginava-lhes o que lhes ia no pensamento: “aquela deve ser a mãe
dele, só pode!”, “que desperdício um rapaz tão bonito, para uma velha”. No
decorrer do nosso percurso de vida, o tempo acaba sempre por ser o nosso melhor
aliado, e depois de alguns anos, de uma relação forçada e cada vez mais intensa
com as minhas rugas, relativizei, abandonei o preconceito que eu própria levava
dentro de mim, então aceitei-as e na maior parte dos dias, consigo observá-las
com um sorriso no rosto, dias há, esporadicamente, em que ainda tenho alguma dificuldade
em reconhecer a mulher no espelho, outrora menina, uma menina que muito antes
de ter qualquer ruga, desesperava com a imagem refletida no espelho, porque se
focava sempre nos pontos negativos, que o seu aspeto físico poderia revelar. Os
anos passam e o que a minha difícil, mas preciosa relação com as rugas me
ensinou, é que a beleza está na forma como vemos as coisas, hoje consigo ver
muito mais beleza na imagem refletida no espelho do que há 15 anos atrás,
porque anteriormente via o que não era essencial, analisava cada detalhe do meu
rosto e do meu corpo e recriminava-me constantemente por não ser tão perfeita
quanto as modelos das revistas. Agora vejo para além da imagem que o espelho
reflete, foco-me no meu olhar e vejo conquistas, vejo lágrimas, vejo sorrisos e
até mesmo gargalhadas, vejo crescimento, quietude, perseverança e uma criança
que não se cansa de ser isso mesmo, criança, porque em menina vivia em função
da mulher que gostaria de ser e hoje vivo para a menina que sei que sou, com
muito da menina que fui e com o melhor que recebi da mulher em que me tornei. Hoje
preferia que as minhas amigas rugas nunca me abandonassem, pois levam com elas
histórias de uma vida, confidenciei-lhes segredos, sonhos e saberes, mas não me
importava que se mantivessem como estão, sem muito “show off”, discretas e
serenas… Até morrermos a vida insiste em presentear –nos com as mais
fantásticas lições e algumas das lições
que guardo com mais carinho são estas: Não é o que vês, é como vês…Não é o que
tens, é como desfrutas o que tens…Não é o que os outros vêm de ti é como te vês
a ti mesma, é o que sabes que és… e nada mais importa* Carpe Diem…
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