sábado, 30 de abril de 2016
terça-feira, 19 de abril de 2016
sábado, 16 de abril de 2016
Obrigada! Volte sempre! (ou não)
O atendimento ao público não é
“pêra doce” e só quem o prova tem o desprazer de o saborear. Quando
cumprimentamos um cliente/visitante, dizemos olá ao sorriso, às suas lágrimas,
às suas preocupações, frustrações e um sem número de emoções, que muitas vezes acabam
por afetar inequivocamente o nosso próprio estado de espírito, ainda que nem
sempre o consigamos relacionar.
Há no atendimento ao público uma
relação agridoce, quando o deixamos de fazer pelos mais variados motivos, por
vezes sentimos o vazio que os clientes amigos nos deixam na alma, por outro
lado, se estamos há anos a fazê-lo é inevitável sentirmos um desgaste imenso
provocado pelo cansaço que é interagirmos continuamente com as especificidades
comportamentais de cada cliente/visitante. Dia após dia, pé ante pé, passamos a
viver os seus problemas pois não somos de modo algum apenas o empregado de balcão,
somos sobretudo a almofada de consolo e até nós peregrinam as mais trágicas
histórias de vida e somos igualmente o saco de boxe onde outros tantos vêm
descomprimir o stresse do dia-a-dia. Gradualmente o nosso currículo vai-se
expandindo e passamos a poder desempenhar, com mérito, outras funções:
engolidores de sapos, atores e atrizes, conselheiros matrimoniais, psicólogos,
gestores de conflitos e um sem fim de dotes que a experiência com o público nos
vai cedendo.
E vezes há em que temos que
sorrir com vontade de chorar, obrigando-nos a esquecer os nossos próprios
problemas para lembrar à pessoa que desabafa, debruçada no balcão, que a vida
não é assim tão difícil, que problemas todos temos e que não é a pensar no
problema que ele automaticamente se resolve, a energia que nos resta no auge de
uma situação mais complicada deve ser despendida com a procura de soluções, com
a certeza que vamos dar a volta por cima, demore o tempo que demorar, nunca
nenhum drama é eterno, há a queda, há o digerir da queda, há o sentir as dores
da queda e há o erguer, tem que haver o erguer, para uns mais rápido de que
para outros, mas ninguém pode viver eternamente infeliz, é contra natura! Vejo
rostos densos que entram no estabelecimento, sem uma palavra proferir, os seus
olhares são opacos, a sua boca não responde ao mais básico cumprimento de coexistência
social, não me encaram talvez com medo que lhes perceba a densidade de suas
almas, mas não é a mim, nem a ninguém que têm que prestar contas, é a si
mesmos, eu tenho uma vida própria para cuidar, dos outros só me importa se são
felizes e se com isso deixam o mundo um pouco melhor…
Doem-me as suas perspetivas de superioridade
face à pequenez da pessoa que atende o público, doem-me os seus olhares
trocistas e os seus sorrisinhos sarcásticos, não me conhecem, quem sabe se
apesar de não ter um doutoramento não serei até bem mais inteligente que eles
mesmos? Pelo menos aprendi mais da escola da vida e isso deu-me inteligência
suficiente para ser cordial com o próximo e para não me sentir superior a
ninguém.
Alegram-me os clientes de alma
leve, a empatia criada por vezes com alguém que acabei de conhecer, mas que
sinto que poderia levar para a vida, alegra-me apoia-los com as minhas palavras
e saber que se despedem de mim com a alma mais leve e um sorriso no rosto,
alegram-me os bons dias expansivos e sorrisos translúcidos, a estes clientes
dou-lhe o mundo se puder, aos outros digo-lhes: Obrigada! Volte sempre! (ou
não).
quinta-feira, 14 de abril de 2016
segunda-feira, 11 de abril de 2016
Auto-estima VS Julgamento da sociedade
"A minha autoestima estava totalmente dependente dos olhos dos outros, da forma como me viam e aceitavam e mesmo que todos se manifestassem agradados comigo, nunca era o suficiente, pois aos meus olhos, eu era imperfeita e não me amando, era impossível sentir-me amada fosse por quem fosse.
Sempre fui insegura, talvez até um pouco cobarde, pois na altura de dizer o que penso ou afirmar-me perante situações de discórdia, prefiro calar e deixar os outros conduzirem a situação. Detesto discussões, evito-as ao máximo e, por isso, perdoo e esqueço com grande facilidade, só quero estar bem com o mundo e faço tudo para o respeitar. A minha mãe dá muito valor ao que os outros pensam e numa pequena aldeia, pensar no que os outros pensam de nós, acarreta uma pressão colossal. Todos se conhecem e por mais que nos esforcemos por agradar, haverá sempre alguém a apontar uma ínfima nódoa no nosso mais deslumbrante vestido, ninguém parece reparar no quão magnífico ele é, pois estão todos demasiadamente concentrados naquela minúscula nódoa. Aprendi que podemos dar 99% de motivos para que falem bem de nós, mas que a sociedade é cruel ao ponto de se focar apenas naquele ponto percentual em que ousámos errar. Foi-me incutido, de forma inconsciente, que é um dever parecer bem aos outros, porque a sociedade julga o desconhecido com muito mais facilidade do que se julga a ela própria, porque apontar o dedo é fácil e alivia as nossas próprias imperfeições. Até há bem pouco tempo atrás, regi-me pelo dever de agradar ao mundo. Agora, acredito que viver com a obsessão de agradar ao próximo é perfeitamente errado e opressivo, pois o resultado que se obtém desse esforço pelo agrado coletivo é sempre dececionante. Se vives para agradar ao próximo, é porque não tens autoestima e amor-próprio que te dê alicerces para enfrentar destemidamente o julgamento alheio, é porque a tua insegurança te deixa à mercê dos exigentíssimos pareceres sociais. Um dia, irás desiludi-los porque não irás conseguir superar sempre as suas elevadas expetativas e vais sentir-te frustrado, pois nunca te agradaste a ti mesmo. O único ser a quem deves agradar é a ti próprio,se fores fiel a ti mesmo, tudo será simples, pois não os irás surpreender de forma súbita com o teu novo Eu, tal como eu fiz (...) Nos meus monólogos interiores em jeito de autocrítica, costumava pensar que na vida não tinha problemas, eu era o problema. Inimiga de mim mesma, não gostava nem valorizava minimamente o meu ser, vivia numa luta interior desde a adolescência e cometi alguns disparates, que funcionavam como que autopunição por não cumprir os requisitos de perfeição que me impunha. Entrava em dietas rigorosíssimas, porque ao contrário do que o mundo me dizia, eu era feia e gorda. Sempre adorei doces e guloseimas mas obrigava-me a um controlo e cuidado incessante com a aparência, pois a meu ver o facto de ser feia, deveria ser minimizado e ultrapassado com maquilhagem diária e roupas bonitas em plena concordância com a moda. Ao almoço comia uma sopa e o buraco que sentia no estômago no decorrer de uma tarde de trabalho era como um castigo que devia sentir por não ter o corpo que sempre sonhara. Não me orgulho destes meus disparates, muito pelo contrário, mas tenho de aceitá-los. Felizmente, fazem parte do meu passado, mas neste momento podem fazer parte do presente de muitas pessoas, como tal, sinto-me no dever de os partilhar, para poder inspirar outros e fazer-lhes perceber que haverá sempre uma luz ao fundo do túnel. As fases mais negras da nossa vida podem funcionar como estágios onde permanecemos para poderemos vislumbrar outras luzes que se aproximam ou que já moravam no nosso interior e não tínhamos força para as fazer sobressair. Hoje, quando penso em tudo isto, sinto que fui tão fútil, tão materialista, tão vazia. Não percebia que isto que temos é só um corpo, que o que vai restar de nós quando morrermos não é o corpo e os seus adornos que o embelezam, mas sim a alma e é essa que temos que ir embelezando ao longo da vida, pois será a única coisa que nos será permitido levar quando partirmos. É válido que nos sintamos bem por dentro e por fora, o ideal é mesmo conseguirmos um equilíbrio que faça jus à frase “mente sã em corpo são”, mas o corpo não se deve sobrepor à alma e o que fazemos para melhorá-lo não nos poderá melindrar e prejudicar, tem de ser algo natural que nos traga tranquilidade(…)”
Excerto do Livro Juntos Somos Invencíveis
domingo, 3 de abril de 2016
Porquê agora?
“Oh mulher, mas porquê agora? Não te conhecia dada a estas
coisas da escrita…“ Ouvi quando comuniquei, em pleno êxtase, que iria
em breve lançar um livro. Engoli em seco, não era essa a reação que esperava,
abanou-me, mas não caí como o teria feito anteriormente. Tentei perceber que só
me desiludi porque ousei criar expectativas, compreendi que tal reação havia
sido natural, afinal todos julgam que nos conhecem, mas tão poucos sabem quem
na realidade somos. Sim eu sou a menina, agora mulher, cujo pavor do veredicto
da sociedade fez calar. E se no passado a minha insegurança desmedida me fez
recolher na minha concha de cobardia, no presente as minhas vontades gritam
mais alto que a minha insegurança. Aos trinta e quatro anos relativizamos muito
mais as coisas e vibramos muito mais com o que de facto nos preenche e aquece a
alma…e sim continuo insegura, mas muito mais corajosa! Percebi que nunca irei
agradar a sociedade e portanto obriguei-me a agradar-me a mim mesma e sabe tão
bem! Com esta idade, resolvi abrir a gaveta, pegar no livro que se destinava a
ser incógnito para sempre e unir esforços para edita-lo! Mas porquê? Porque
finalmente três décadas depois de andar por estas bandas, percebi que a
felicidade está intimamente ligada a cada passo no sentido das nossas
realizações pessoais e…fiz uma pausa na correria da vida, para registar por
escrito as minhas realizações pessoais, numa pequena lista que guardo agora
como marcador no livro que neste momento me embala antes de adormecer. Assim
obrigo-me a revê-la todas as noites e não deixo que me caia no esquecimento, já
bastou o tempo que me esqueci de mim mesma… Com este meu novo e saboroso egoísmo,
penso cada vez mais em riscar o próximo tópico da lista e cada vez menos no
burburinho que este meu novo EU vai despoletar. Porque só eu sei a felicidade
que sinto ao escrever, a cantar, a fotografar… a ser eu mesma. Porquê agora?
Porque a marioneta amou-se um pouquinho mais e isso fez com que ganhasse forças
para cortar as cordas que a manipulavam. Porquê agora? Porque percebi
tardiamente que por mais que nos esforcemos, os aplausos vão ser sempre
escassos e nem sempre sinceros e então não há porque nos subjugarmos. Porquê
agora? Porque me abri à possibilidade de ser feliz a maior parte do tempo e com
isto deixar um pouco mais felizes os que me rodeiam. Porquê agora? Porque só
com a idade percebemos que o tempo voa, e que se não soubermos aproveitar cada
segundo, corremos o risco de já não ter tempo para tudo o que nos falta
realizar. Porquê agora? Porque o amanhã pode não chegar e quando partires
poderás ficar desiludido com a leveza que a tua alma carrega na bagagem.
Porquê agora? E porque não?
sexta-feira, 1 de abril de 2016
Só nós sabemos...
"...foi nesse preciso período
da minha vida que percebi que o nosso caminho na vida é solitário e escrevo-o
não com mágoa ou ressentimento, escrevo-o com a alegria de o ter percebido. Temos
de viver de dentro para fora, não obstante estarmos rodeados de amigos e
familiares, mas tudo parte de nós, temos de nos dar de coração, percebendo à
partida, que nós e só nós, podemos comandar o nosso destino. Temos de nos conhecer
verdadeiramente para sabermos o que nos eleva o espírito, sendo esse o
principal propósito da nossa vida. Podemos ter um milhão de amigos, o amor da
nossa vida a nosso lado, mas será sempre a nós mesmos que deveremos prestar
contas. O mundo poderá amar-nos mas se nós não nos amarmos primeiro, nunca iremos
saber receber e dar amor. O mundo não nos conhece intrinsecamente e, por isso,
por mais desenhos que possamos fazer tentando passar uma mensagem, só nós a
iremos interpretar corretamente e, com o tempo, aprendemos que não temos de ser
transparentes com o mundo, mas sim connosco e compreendemos, duramente, que
muitas vezes os períodos em que mais evoluímos, foram os que atravessamos sozinhos,
no rescaldo da nossa dor."
Excerto do livro "Juntos Somos Invencíveis."
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