segunda-feira, 11 de abril de 2016

Auto-estima VS Julgamento da sociedade



"A minha autoestima estava totalmente dependente dos olhos dos outros, da forma como me viam e aceitavam e mesmo que todos se manifestassem agradados comigo, nunca era o suficiente, pois aos meus olhos, eu era imperfeita e não me amando, era impossível sentir-me amada fosse por quem fosse.
Sempre fui insegura, talvez até um pouco cobarde, pois na altura de dizer o que penso ou afirmar-me perante situações de discórdia, prefiro calar e deixar os outros conduzirem a situação. Detesto discussões, evito-as ao máximo e, por isso, perdoo e esqueço com grande facilidade, só quero estar bem com o mundo e faço tudo para o respeitar. A minha mãe dá muito valor ao que os outros pensam e numa pequena aldeia, pensar no que os outros pensam de nós, acarreta uma pressão colossal. Todos se conhecem e por mais que nos esforcemos por agradar, haverá sempre alguém a apontar uma ínfima nódoa no nosso mais deslumbrante vestido, ninguém parece reparar no quão magnífico ele é, pois estão todos demasiadamente concentrados naquela minúscula nódoa. Aprendi que podemos dar 99% de motivos para que falem bem de nós, mas que a sociedade é cruel ao ponto de se focar apenas naquele ponto percentual em que ousámos errar. Foi-me incutido, de forma inconsciente, que é um dever parecer bem aos outros, porque a sociedade julga o desconhecido com muito mais facilidade do que se julga a ela própria, porque apontar o dedo é fácil e alivia as nossas próprias imperfeições. Até há bem pouco tempo atrás, regi-me pelo dever de agradar ao mundo. Agora, acredito que viver com a obsessão de agradar ao próximo é perfeitamente errado e opressivo, pois o resultado que se obtém desse esforço pelo agrado coletivo é sempre dececionante. Se vives para agradar ao próximo, é porque não tens autoestima e amor-próprio que te dê alicerces para enfrentar destemidamente o julgamento alheio, é porque a tua insegurança te deixa à mercê dos exigentíssimos pareceres sociais. Um dia, irás desiludi-los porque não irás conseguir superar sempre as suas elevadas expetativas e vais sentir-te frustrado, pois nunca te agradaste a ti mesmo. O único ser a quem deves agradar é a ti próprio,se fores fiel a ti mesmo, tudo será simples, pois não os irás surpreender de forma súbita com o teu novo Eu, tal como eu fiz (...) Nos meus monólogos interiores em jeito de autocrítica, costumava pensar que na vida não tinha problemas, eu era o problema. Inimiga de mim mesma, não gostava nem valorizava minimamente o meu ser, vivia numa luta interior desde a adolescência e cometi alguns disparates, que funcionavam como que autopunição por não cumprir os requisitos de perfeição que me impunha. Entrava em dietas rigorosíssimas, porque ao contrário do que o mundo me dizia, eu era feia e gorda. Sempre adorei doces e guloseimas mas obrigava-me a um controlo e cuidado incessante com a aparência, pois a meu ver o facto de ser feia, deveria ser minimizado e ultrapassado com maquilhagem diária e roupas bonitas em plena concordância com a moda. Ao almoço comia uma sopa e o buraco que sentia no estômago no decorrer de uma tarde de trabalho era como um castigo que devia sentir por não ter o corpo que sempre sonhara. Não me orgulho destes meus disparates, muito pelo contrário, mas tenho de aceitá-los. Felizmente, fazem parte do meu passado, mas neste momento podem fazer parte do presente de muitas pessoas, como tal, sinto-me no dever de os partilhar, para poder inspirar outros e fazer-lhes perceber que haverá sempre uma luz ao fundo do túnel. As fases mais negras da nossa vida podem funcionar como estágios onde permanecemos para poderemos vislumbrar outras luzes que se aproximam ou que já moravam no nosso interior e não tínhamos força para as fazer sobressair. Hoje, quando penso em tudo isto, sinto que fui tão fútil, tão materialista, tão vazia. Não percebia que isto que temos é só um corpo, que o que vai restar de nós quando morrermos não é o corpo e os seus adornos que o embelezam, mas sim a alma e é essa que temos que ir embelezando ao longo da vida, pois será a única coisa que nos será permitido levar quando partirmos. É válido que nos sintamos bem por dentro e por fora, o ideal é mesmo conseguirmos um equilíbrio que faça jus à frase “mente sã em corpo são”, mas o corpo não se deve sobrepor à alma e o que fazemos para melhorá-lo não nos poderá melindrar e prejudicar, tem de ser algo natural que nos traga tranquilidade(…)”

Excerto do Livro Juntos Somos Invencíveis 


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