domingo, 3 de abril de 2016

Porquê agora?


“Oh mulher, mas porquê agora? Não te conhecia dada a estas coisas da escrita…“ Ouvi quando comuniquei, em pleno êxtase, que iria em breve lançar um livro. Engoli em seco, não era essa a reação que esperava, abanou-me, mas não caí como o teria feito anteriormente. Tentei perceber que só me desiludi porque ousei criar expectativas, compreendi que tal reação havia sido natural, afinal todos julgam que nos conhecem, mas tão poucos sabem quem na realidade somos. Sim eu sou a menina, agora mulher, cujo pavor do veredicto da sociedade fez calar. E se no passado a minha insegurança desmedida me fez recolher na minha concha de cobardia, no presente as minhas vontades gritam mais alto que a minha insegurança. Aos trinta e quatro anos relativizamos muito mais as coisas e vibramos muito mais com o que de facto nos preenche e aquece a alma…e sim continuo insegura, mas muito mais corajosa! Percebi que nunca irei agradar a sociedade e portanto obriguei-me a agradar-me a mim mesma e sabe tão bem! Com esta idade, resolvi abrir a gaveta, pegar no livro que se destinava a ser incógnito para sempre e unir esforços para edita-lo! Mas porquê? Porque finalmente três décadas depois de andar por estas bandas, percebi que a felicidade está intimamente ligada a cada passo no sentido das nossas realizações pessoais e…fiz uma pausa na correria da vida, para registar por escrito as minhas realizações pessoais, numa pequena lista que guardo agora como marcador no livro que neste momento me embala antes de adormecer. Assim obrigo-me a revê-la todas as noites e não deixo que me caia no esquecimento, já bastou o tempo que me esqueci de mim mesma… Com este meu novo e saboroso egoísmo, penso cada vez mais em riscar o próximo tópico da lista e cada vez menos no burburinho que este meu novo EU vai despoletar. Porque só eu sei a felicidade que sinto ao escrever, a cantar, a fotografar… a ser eu mesma. Porquê agora? Porque a marioneta amou-se um pouquinho mais e isso fez com que ganhasse forças para cortar as cordas que a manipulavam. Porquê agora? Porque percebi tardiamente que por mais que nos esforcemos, os aplausos vão ser sempre escassos e nem sempre sinceros e então não há porque nos subjugarmos. Porquê agora? Porque me abri à possibilidade de ser feliz a maior parte do tempo e com isto deixar um pouco mais felizes os que me rodeiam. Porquê agora? Porque só com a idade percebemos que o tempo voa, e que se não soubermos aproveitar cada segundo, corremos o risco de já não ter tempo para tudo o que nos falta realizar. Porquê agora? Porque o amanhã pode não chegar e quando partires poderás ficar desiludido com a leveza que a tua alma carrega na bagagem.

Porquê agora? E porque não?  



sexta-feira, 1 de abril de 2016

Só nós sabemos...

"...foi nesse preciso período da minha vida que percebi que o nosso caminho na vida é solitário e escrevo-o não com mágoa ou ressentimento, escrevo-o com a alegria de o ter percebido. Temos de viver de dentro para fora, não obstante estarmos rodeados de amigos e familiares, mas tudo parte de nós, temos de nos dar de coração, percebendo à partida, que nós e só nós, podemos comandar o nosso destino. Temos de nos conhecer verdadeiramente para sabermos o que nos eleva o espírito, sendo esse o principal propósito da nossa vida. Podemos ter um milhão de amigos, o amor da nossa vida a nosso lado, mas será sempre a nós mesmos que deveremos prestar contas. O mundo poderá amar-nos mas se nós não nos amarmos primeiro, nunca iremos saber receber e dar amor. O mundo não nos conhece intrinsecamente e, por isso, por mais desenhos que possamos fazer tentando passar uma mensagem, só nós a iremos interpretar corretamente e, com o tempo, aprendemos que não temos de ser transparentes com o mundo, mas sim connosco e compreendemos, duramente, que muitas vezes os períodos em que mais evoluímos, foram os que atravessamos sozinhos, no rescaldo da nossa dor." 
Excerto do livro "Juntos Somos Invencíveis." 



sexta-feira, 25 de março de 2016

Ao meu príncipe...

E palavras houvessem, dir-te-ia que é enternecedor e até comovente assistir-vos, contemplar a vossa fantástica relação de pai e filho, observar o brilho recíproco presente em cada um dos vossos olhos resplandecentes e perceber que não poderia ter escolhido melhor papá para o meu filho, palavras houvessem, dir-te-ia o quão orgulhosa estou do que temos vindo a construir enquanto família, palavras houvessem, dir-te-ia que é mágico ver-te a contar histórias para o nosso príncipe adormecer, mesmo quando és tu que não dormes há mais de vinte e quatro horas, palavras houvessem, dir-te-ia que é inspirador ver a garra com que enfrentas a vida, pois sei que a tua principal motivação é proporcionares ao teu filho o suficiente em peso e medida para que se torne um adulto fantástico, íntegro, humano, lutador… mas não há palavras, todas me parecem parcas na hora de falar do pai maravilhoso que és… Juntos somos INV_ _ _ _ _ _ _S 

Bullying

"Era um dia de Inverno cerrado e à escuridão de um lento amanhecer juntou-se o corte geral de eletricidade. Há muito que andava a sofrer com a perseguição de um grupo de quatro rapazes bem mais velhos do que eu, que me abordavam, elogiavam, lançavam piropos asquerosos, apalpavam-me e fugiam. Naquela manhã de Janeiro, aproveitaram o facto de, no meio da escuridão, me ter perdido das minhas amigas no tumulto de um átrio repleto de crianças e jovens ao rubro e cercaram-me, enquanto procurava as minhas amigas na rua, em busca de um pouco mais de claridade. Quando os vi a aproximarem-se com aquelas expressões de leões ferozes que encontram novas presas, tremi de medo. Só tive tempo de fugir pela única escapatória possível que ia dar às salas mais desagregadas e, por isso, mais desertas da escola: a biblioteca, a secretaria e o Conselho Diretivo. A manhã demorava a clarear e pensando já estar segura, recuperei o fôlego encostada à parede da biblioteca, sem que desse conta, eles apanharam-me, cercaram, tocaram, apalparam e beijaram com uma insensibilidade e uma agressividade assustadora, sem qualquer indício de caráter, dignidade e até mesmo de arrependimento. Quanto mais me tentava esquivar, gritando desesperada, mais eles troçavam e aumentavam a intensidade do toque, tentando silenciar-me, enquanto soltavam os asquerosos elogios do costume e percorriam todas as partes do meu corpo com as suas mãos sôfregas, contundentes, repugnantes... Magoaram-me fisicamente, mas a dor que causaram à minha alma foi mais devastadora e atroz. Eu tinha doze anos, era uma menina demasiado ingénua e frágil para sofrer tão duro golpe sem que ficasse traumatizada. Corri para a casa de banho, lavei a minha cara e a minha boca aflitivamente, quis lavar todo o meu corpo, que me enojava, mas não era possível. A eletricidade voltara, mas eu permaneci trancada na casa de banho, com um pavor imenso do que lá fora me poderia novamente esperar. Sentada na sanita, debruçada no meu colo, esfregava a boca com o intuito de a limpar, com movimentos cuja intensidade ia agressivamente aumentando, como que autopunindo-me por ter sido beijada, como que tentando arrancar a pele para que não restasse a mínima possibilidade de ainda haver vestígios de saliva daqueles selvagens. Encontrei por fim as minhas amigas, procuravam-me preocupadíssimas por não me verem há tanto tempo e quando se aperceberam de que algo de grave me havia acontecido, ficaram extremamente assustadas dando-me muito apoio e consolo, fazendo com que me sentisse protegida, amada, mas fi-las de imediato prometer que não contariam a ninguém, pois aqueles monstros com corpos de homem, haviam-me ameaçado que se alguém tivesse conhecimento do sucedido, iriam fazer muito pior. Demorei a recompor-me, mas tinha de fazê-lo. A minha mãe chegaria dentro de pouco tempo para uma reunião com a diretora de turma e não podia suspeitar do que havia acontecido. Se soubesse, iria apresentar queixa no Conselho Diretivo e tentar chegar à conversa com os indivíduos e, mais tarde ou mais cedo, eu iria sofrer represálias. Para eles foi uma brincadeira inconsequente, para mim foi um trauma que gerou pesadelos, medo, angústia e remorsos porque a minha baixa autoestima e insegurança toldaram-me o discernimento e fizeram com que acreditasse que a culpa tinha sido minha. Eles nunca souberam o rombo que causaram no meu desenvolvimento, nem desconfiaram da aversão que me ficou aos rapazes e que condicionou irremediavelmente a minha vivência social." 
Excerto do livro "Juntos Somos Invencíveis." 



E em escassos minutos muda tudo, o modo como vemos o mundo, o modo como nos vemos no mundo, o olhar cristalino com que contemplavas o mundo minutos antes, vê-se agora embaciado por lágrimas que te obrigam a abrir os olhos, conceber uma nova realidade, percebendo gravemente que a tinta cor-de-rosa com que sempre quiseste pintar o mundo à tua volta, era parca para o tanto que havia ainda por pintar. E nada é igual, refugias-te em ti mesmo, constróis barreiras intransponíveis que em vês de te protegerem, fazem com que te isoles e te sintas mais e mais só e desagregado.
O Bullying mata-nos, mesmo que ninguém o note, mata-nos o brio, a coragem, o amor-próprio e como o corpo continua vivo, obrigamo-nos a ressuscitar e a começar do zero, com mais ou menos complexos, com mais ou menos inseguranças e medos, mas é assim, faz parte do processo, é natural existirem boas e más pessoas, temos que conseguir contornar as cicatrizes que as menos boas nos desenham na alma e seguir em frente, erguendo a cabeça tanto quanto conseguirmos, até ao limite em que vemos os sorrisos sarcásticos de quem aplaudiu a nossa humilhação e voltamos a olhar para o chão, para fugir aos sorrisos das pessoas menos boas e dos seus amigos, que nos chamaram de gordos, de palitos, de feios, de orelhudos, de narigudos, de betos, de cromos, de pretos, de tudo o que lhes vier à mente e que sirva para nos fazer sentir diferentes, menos bons, miseráveis…


domingo, 13 de março de 2016

Palavras inspiradoras

"Quando te sentes inspirado por um objectivo grandioso, por um projecto extraordinário, todos os teus pensamentos quebram as suas grilhetas: a tua mente transcende as limitações, a tua consciência expande-se em todas as suas direções, e tu deparas-te com um novo, magnífico e maravilhoso mundo. As forças, faculdades e talentos adormecidos despertam para a vida e descobres que tu próprio és uma pessoa muito melhor do que jamais pensaras ser possível."Patandjáli



sexta-feira, 11 de março de 2016

Excerto ...

Termino este livro com alegria traduzida em lágrimas que teimam em beijar o teclado do computador, sim, são lágrimas de alegria mas também de comoção por tudo o que representa este livro e por todo o sofrimento experienciado. Como dói aprender, como é gritante a dor da mudança e quão doloroso é ir contra as normas da sociedade, sobretudo, quando a falta de autoestima nos remete para uma insegurança avassaladora que nos faz sermos marionetas do contexto social. In Juntos Somos Invencíveis



sexta-feira, 4 de março de 2016

Rugas

Após um início de relação bastante doloroso com as minhas rugas, fizemos as pazes. O nosso primeiro encontro foi tempestuoso, também porque nos conhecemos numa altura dificílima, perfeitamente inoportuna, precisamente quando iniciava uma nova relação com o namorado, agora marido, sete anos mais novo. A acentuada perda de peso da altura, antecipou a minha relação com as minhas rugas, e na altura surgiu como uma nova alavanca para a minha velha auto estima, quando um qualquer espelho se atrevia a cruzar o meu caminho era o descalabro total. Demorei a aceitar cada novo traço desenhado na minha face e numa altura, em que de certo modo rejubilava com a minha recente relação amorosa, via-me a ofuscar o brilho que esta nova relação me trazia, por não conseguir encarar uma sociedade magistrada, que vê ainda a diferença de idades como algo digno de se tornar na próxima conversa de café. Quando nos cruzávamos com pessoas conhecidas, imaginava-lhes o que lhes ia no pensamento: “aquela deve ser a mãe dele, só pode!”, “que desperdício um rapaz tão bonito, para uma velha”. No decorrer do nosso percurso de vida, o tempo acaba sempre por ser o nosso melhor aliado, e depois de alguns anos, de uma relação forçada e cada vez mais intensa com as minhas rugas, relativizei, abandonei o preconceito que eu própria levava dentro de mim, então aceitei-as e na maior parte dos dias, consigo observá-las com um sorriso no rosto, dias há, esporadicamente, em que ainda tenho alguma dificuldade em reconhecer a mulher no espelho, outrora menina, uma menina que muito antes de ter qualquer ruga, desesperava com a imagem refletida no espelho, porque se focava sempre nos pontos negativos, que o seu aspeto físico poderia revelar. Os anos passam e o que a minha difícil, mas preciosa relação com as rugas me ensinou, é que a beleza está na forma como vemos as coisas, hoje consigo ver muito mais beleza na imagem refletida no espelho do que há 15 anos atrás, porque anteriormente via o que não era essencial, analisava cada detalhe do meu rosto e do meu corpo e recriminava-me constantemente por não ser tão perfeita quanto as modelos das revistas. Agora vejo para além da imagem que o espelho reflete, foco-me no meu olhar e vejo conquistas, vejo lágrimas, vejo sorrisos e até mesmo gargalhadas, vejo crescimento, quietude, perseverança e uma criança que não se cansa de ser isso mesmo, criança, porque em menina vivia em função da mulher que gostaria de ser e hoje vivo para a menina que sei que sou, com muito da menina que fui e com o melhor que recebi da mulher em que me tornei. Hoje preferia que as minhas amigas rugas nunca me abandonassem, pois levam com elas histórias de uma vida, confidenciei-lhes segredos, sonhos e saberes, mas não me importava que se mantivessem como estão, sem muito “show off”, discretas e serenas… Até morrermos a vida insiste em presentear –nos com as mais fantásticas  lições e algumas das lições que guardo com mais carinho são estas: Não é o que vês, é como vês…Não é o que tens, é como desfrutas o que tens…Não é o que os outros vêm de ti é como te vês a ti mesma, é o que sabes que és… e nada mais importa* Carpe Diem…


segunda-feira, 29 de fevereiro de 2016

O amanhã, é agora...

Ela que sorri com a mesma intensidade com que chora
Ela cujos sonhos abafou para calar uma vida sôfrega
Ela que se impõe ao cansaço, almejando sonhos a conta-gotas
Ela que se rendeu à paz e por isso calou a guerra,
Ela que canta em silêncio, provando um dos seus sonhos abafados,
Ela que se entrega às palavras e se delicia com outro pedaço de sonho,
Ela que todos vêm, mas tão poucos a sabem,
Ela que chora lágrimas que não são delas e sorri aos sonhos dos demais,
Ela que segura o pedaço rosa do mundo e nega-se à perceção das cores mais densas,
Ela que é mulher, que é mãe, que é profissional, que é amiga, que quer ser tudo,
E se revolta com o relógio, por limitá-la ao ponto de se sentir escassa,
Ela, ele, e o seu pequeno mundo de um metro e pouco,
Eles bastam-lhe, eles conferem-lhe um sorriso de infinito, eles são amor
Ela é feliz em todos os momentos felizes, e são muitos… nos outros chora, aceita e segue em
frente com o olhar preso no horizonte e coragem na bagagem, ensinou-lhe a vida, que é a única responsável pela sua felicidade e então, cai, assume os erros, morde os lábios, suporta a dor e avança, a paciência já não lhe permite lamentos, o tempo é escasso para ser desperdiçado, o amanhã é agora.
Ela de olhar cintilante, observa o espelho no meu quarto e sorri, pois está onde deveria estar,
no caminho que embora se adivinha longo, é o seu, traçado de luta com sabor a lágrimas e
vitórias com sabor a sorrisos… o amanhã é agora.